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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Imagens terríveis na principal igreja de SP devoram os espectadores

O público ainda nem esqueceu a imagem horrível do menino curdo morto afogado em praia da Turquia e uma nova sequência de imagens chocantes vai devorar os espectadores.
Na tarde desta sexta-feira (4), dois homens morreram após troca de tiros na escadaria da Catedral da Sé, cartão-postal do centro de São Paulo.
Não é o público quem consome as imagens, elas é que dominam sua mente, possuem sua alma, até a próxima cena terrível. Todos os dias as imagens precisam fazer a sua refeição de público. "A imprensa é uma necrófila insaciável", diz personagem do escritor Rubem Fonseca.
Enquanto escrevo, o vizinho assiste com o som alto o "Brasil Urgente", e ouço a voz do apresentador José Luiz Datena. O programa transmitiu e "trepetiu" as cenas em tempo real: um cinegrafista da emissora estava lá na hora H.
Há um poderoso simbolismo a potencializar a sequência de imagens na tarde de uma sexta-feira em que as estradas já iniciavam o congestionamento para o fim de semana prolongado: um homem e uma mulher na porta da principal igreja da cidade, ambos jovens, em vez de entrarem para um casamento, ele a mantém como refém.
A porta do templo se fecha para eles. Estão no alto da escadaria da catedral, como num palco. Ali é o centro geográfico de São Paulo, o "marco zero". Outro homem, mais velho, que remete à maturidade, se aproxima para tirar a mulher das mãos do primeiro. Sua aparente boa ação, estabanada, é punida com a morte, o que desencadeia um tiroteio, em que morre também o agressor, e a mulher sai do episódio ferida.
A cena é filmada em tempo real pela TV e também pelos celulares de centenas de pessoas que passavam pelo local, incluindo crianças, e correram para ver a cena (no tempo do selfie, os celulares se voltaram para o outro lado).
Parece um enredo de novela diabólica: homem e mulher explodem a ideia de casal, o bem é punido com a morte, nem o espaço do sagrado se salva da violência, as balas fuzilam o coração de São Paulo.
A capital paulista vive hoje os menores índices de homicídio (o termômetro mais usado) de sua história conhecida, revertendo décadas de crescimento contínuo. Nos anos 1980, quando Nova York era mais perigosa que São Paulo e esta tinha uma imagem de cidade segura, a violência era maior que hoje. E entre todas as áreas, o centro, onde fica a Sé, é das mais seguras.
Mas como acreditar em estatísticas diante de cenas como as desta sexta-feira, que vão reverberar na mídia até encontrar substitutas à altura? Há poucos dias houve a maior chacina da história; ontem dois homens são mortos diante do nariz, no centro da sala, de todos os paulistanos. As imagens devoram tudo: não há matemática nem racionalidade para contrapô-las.
Na mesma sexta-feira tiveram início no Rio os trabalhos do congresso da Intercom, um dos principais encontros de estudos da comunicação no país. Hoje, o evento homenageia o estudioso Norval Baitello (PUC-SP) pela maturidade de seus estudos sobre imagem. Ele cunhou a ideia de que vivemos uma "Era da Iconofagia" (título de um de seus livros), na qual as imagens devoram os espectadores, se tornam absolutas. Talvez seja apenas uma coincidência em busca de sentido. Ou não.

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