Maria
nossa Irmã - Mulher do coração indiviso ou Virgem puríssima
EMANUELE
BOAGA, O.CARM. - AUGUSTA DE CASTRO COTTA, CDP
1)
Observações
1. Este tema tem forte ligação com o
tema eliano como a consonância na virgindade entre Elias (fundador da Ordem -
successão hereditária) e Maria (também fundadora), entretanto não é necessário
que o Mestre entre em detalhes sobre o assunto (que será aprofundado depois do
noviciado).
2. Na verdade, o essencial do estudo
será a descoberta da beleza de Maria, a Virgem de coração puro, modelo para o
Carmelita que deve viver “com o co¬ração puro e a reta consciência”, na escuta
e acolhida da Palavra, em total di¬sponibilidade a Deus.
3. Esta imagem surgiu nos séculos
XIV-XV, quando se refletia em toda a Igreja sobre o tema da Imaculada
Conceição.
2)
Conteúdo
1. O surgimento desta imagem é fruto e
expressão da reflexão profunda dos Carmelitas nos séculos XIV-XV sobre a
Virgindade de Maria. Procuravam sin¬tonia entre esta e a vida carmelitana em
suas exigências espirituais mais profundas.
2. Nesta caminhada teológica descobrem
Maria como IRMÃ. São vários os auto¬res que estabelecem as consonâncias
Elias-Maria-Carmelitas. Em suas reflexões nutrem esta consideração que tem
também, além do valor espiritual, um valor antropoló¬gico (o sentido da relação
homem-mulher).
3.
Outros Carmelitas aprofundam o mesmo tema, como:
• Arnoldo Bostio - estabelece assim um
vínculo de intimidade dos Carmelitas com Maria, a “excelente irmã”,
acrescentando à relação ma¬ternal com Maria a relação fraternal;
• João Ouderwater Paleonidoro - segue a
linha de Bostio e alimenta o sentimento de familia¬ridade com Maria,
estimulando a imitação na disponibiliade e docilidade à Palavra de Deus.
4. A relação com MARIA-VIRGEM PURÍSSIMA
e IRMÃ traz profundas con-seqüências espirituais:
• chega-se a considerar Maria como um
membro da Ordem: a “Virgo Carmelitana”, afirmando não apenas que a Ordem lhe
pertence, mas que a própria Maria pertence ao Carmelo.
• aparece o ícone de “Maria Carmelitana”
(trajada a Senhora com o hábito dos Carmelitas).
• substituem-se nas rubricas litúrgicas
da época a expressão “Santa Maria” por “Virgem Maria”.
• a virgindade de Maria é apresentada
não tanto como integridade fí¬sica mas como atitude existencial: exclusão de
todo o pecado e afastamento de Deus e de sua vontade para viver em total
disponi¬bilidade a Deus.
5.
Duas conclusões podem ser evidenciadas:
a) Em relação à Maria:
• atenção à sua concepção e santificação
no seio de Sant’Ana (o Mistério da Imaculada Conceição). Vários fatos atestam
isto. Entre outros são essenciais:
- introdução na Ordem da Festa litúrgica
da Imaculada Conceição (já em 1318 era patronal em Avinhão).
- a decisão do Capítulo geral de 1609
que legisla sobre a continuidade de tal celebração após a instituição do dia 16
de julho como festa patronal,
- a inserção da palavra “Virgem” e
depois “Sempre Virgem” (1478) no título da Ordem (lembrar pesquisa feita
anteriormente).
• o tema da Imaculada é inspirativo nas
representações artisticas e na iconografia do tempo. Exemplos: pinturas em
Corleone, Catânia, Londres, Bérgamo, Frankfurt. A Imaculada vem tam¬bém
associada à “Mulher do Apocalipse” (lembrar o tema já estudado na parte
bíblica).
• no aprofundamento e discussão
teológica realizada pela Igreja sobre a Imaculada Conceição, a posição dos
teólogos car¬melitas foi, ge-ralmente, de defesa deste aspecto do mistério de
Maria, ainda que tenha havido alguns com posição con¬trária. Importante
argu¬mentação, por sua autoridade teoló¬gica, é a dos carmelitas João
Baconthorp (†1348), e Miguel Aiguani (†1400).
• o culto à Imaculada Conceição e a
defesa deste privilégio ma¬riano levou os Carmelitas, principalmente
portugueses e espanhóis, a práticas especiais (renovação de votos colocada no
dia da festa; voto de defender a Imaculada Conceição; estímulo aos leigos para
o culto e a defesa do mesmo “privilégio”).
• as referências à Imaculada Conceição
ou “santificatio” de Maria le¬vam a dar ênfase à Beleza de Maria que passa a
ser consi¬derada a “Decor Carmeli”. A via da “pulchritudo” (beleza inte¬rior)
de S. Bernardo encontra grande riqueza de conteúdos na vivência e explicitação
do Carmelo.
b)
Em relação à ordem em seus compromissos marianos:
• a ligação entre a pureza de Maria e o
próprio nome Carmelita, to¬mado como aquele que vive a ciência da circuncisão.
• a atenção a Maria como modelo perfeito
daquele que deseja aderir a Deus com máxima pureza (= beleza interior) une a
“Virgo Virginum”, a irmã por excelência, à Mulher do Apocalipse, ser
to¬talmente disponível para a união com Deus.
• a devoção a Maria Virgem puríssima é
continuação da devoção à Anunciação: é a pureza (= beleza interior) que faz
Deus se encar¬nar em Maria. O Carmelita não a pode imitar neste parti¬cular
privi¬légio, mas pode tomá-la como modelo de união com Deus, de escuta da
palavra e de oração.
• acentua-se a ligação entre a capa
branca e o seu simbolismo: pureza e santidade (João Baconthorp, Felipe Ribot,
João Grossi).
• a disponibilidade a Deus - ensinada por
Maria Madalena de’ Pazzi - através de um caminho ascético-místico que parte do
reconheci¬mento do próprio nada até chegar à contemplação e união com Deus.
Maria torna-se o modelo desta caminhada.
6. Os valores de uma imagem são sempre
retomados e enriquecidos no de¬cor¬rer dos tempos, ainda que, muitas vezes, por
alguns períodos deixem lugar à emergência de outros.
Os conteúdos espirituais da imagem de
Maria, a Virgem puríssima, a “Virgo Carmelitana”, a Imaculada, sempre
continuaram vivos no ideal e na prática da Ordem, ainda que menos presentes às
vezes nos seus escritos.
3) Bibliografia
V. Hoppenbrouwers, Virgo Purissima et
vita spiritualis Carmeli, em Carmelus, 1 (1954), pp. 255-277.
Idem, Devotio mariana, pp. 225-277.
L. Saggi, Santa Maria del Monte Carmelo,
pp. 28-39 (trad. port., pp. 28-34).
C. Catena, La dottrina immacolatista
negli autori carmelitani, em Carmelus, 2 (1955), pp. 132-215.
E. Carroll, La “Virgo Purissima” y el
Carmelo, em Congreso Mariano Internacional 1989, pp. 51-74.
E. Boaga, A Senhora do Lugar, pp. 59-75.
4)
Aprofundamentos
1. Individuar os conteúdos que a
consideração de Maria Virgem puríssima (= disponível à ação da graça que
transforma e embeleza) inspira à vivência do Carmelita. Com a ajuda de um
dicionário de espiritualidade conceituar cada conteúdo.
2. Pesquisar: Sentido do nome Carmelita
em Filipe Ribot, Tomas Bradley e Arnoldo Bostio - todos da época em que emergia
a imagem de Maria Virgem puríssima.
3. Fazer - como se fosse um Carmelita da
época - a argumentção que apre¬senta esta imagem de Maria.
4. Tomar 1Reis 19,44. Pode estabelecer
um nexo entre este texto e a imagem de Maria Virgem puríssima?
5)
Interiorização e oração
1. Leitura espiritual: tomar no Missal
próprio de Nossa Senhora um dos prefácios e interiorizá-lo.
2. Em Isabel da Trindade ler “A Virgem
fiel” (ver texto em: Boaga, A Senhora do Lugar, p. 71-72) e extrair os pontos
em que ba¬seia sua reflexão mariana.
3. Contemplar Maria a “Virgem puríssima”
em sua beleza interior, procurando pe¬netrar no seu coração e verificar a fonte
de sua pureza-beleza. Aprender com ela o caminho da união com Deus. Refletir as
descobertas com o seu Mestre.
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