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sábado, 28 de março de 2015

500 ANOS DE SANTA TERESA DE JESUS: Mensagem do Superior dos Carmelitas.

Frei Fernando Millán Romeral, O. Carm. Prior Geral.

 Uno-me a todos nesta ocasião especial na qual vos reunis para celebrar o V centenário do nascimento de Santa Teresa. É importante, como haveis bem programado, não somente celebrar liturgicamente esta memória, mas também refletir sobre a figura e o legado humano e espiritual deixado por santa Teresa para o Carmelo e para a Igreja.
            Neste ano, no qual a Igreja convoca a Vida Religiosa, em suas diversas formas e expressões, a refletir sobre a própria identidade e missão, o Santo Padre nos convida a assumir três atitudes fundamentais: “olhar com gratidão o passado” e recordar a própria história como elemento necessário para manter viva nossa identidade; “viver com paixão o presente”, deixando-nos interpelar pelo Evangelho e fazendo dele o referencial ultimo para o radicalismo de vida a ser testemunhado; “abraçar com esperança o futuro”, radicados naquela “esperança que não desilude”, com a consciência de que o Espírito continua a impelir esta porção do Povo de Deus, que é a vida religiosa, a fazer grandes coisas. Neste contexto, a mensagem e o testemunho de Santa Teresa podem servir como fonte de inspiração para acolhermos com responsabilidade e alegria os grandes desafios aos quais estamos submetidos e construir respostas corajosas em meio às vicissitudes do tempo e da história. Com sabedoria e maestria, ela soube conjugar o passado, o presente e o futuro para dar luz à sua grande obra de serviço à Igreja.        
Aproximamo-nos sempre de Teresa com santa reverência, aceitando o convite a entrar em diálogo profundo e sincero com sua experiência pessoal da qual emerge a autoridade do seu magistério espiritual. Tomados pela mão, na qualidade de aprendizes, devemos nos deixar conduzir por ela, fazendo nosso o seu itinerário humano e espiritual, descobrindo com ela as vias para a maturação de nossa vocação, radicados em nossa existência concreta, muitas vezes atormentada, mas escolhida por Deus como percurso necessário para a conquista daquela liberdade que se transforma em experiência de pertença a um único e inalienável amor.
Santa Teresa viveu intensamente sua vida em comunhão com os grandes dramas eclesiais do seu tempo. Sentiu o peso da mediocridade que muitas vezes invade a vida daqueles que assumiram a responsabilidade de viver com radicalidade a própria vocação. Como resposta pessoal, ela travou batalhas interiores para reencontrar forças para viver a audácia de uma fidelidade sem restrições. Deixou-se encontrar por aquele que sempre leva a sério o desejo genuíno de fidelidade do coração humano, descobriu-se amada apesar de suas fraquezas, reformou-se e compreendeu que não podia conter em si a novidade de sua descoberta. Encontrou-se com outros que compartilhavam o seu desejo e foi ousada em sua capacidade de romper com os esquemas de uma vida religiosa por demais estabelecida. Como fruto maduro do encontro entre natureza e graça, descobriu a alegria de ser discípula e, com corajosa simplicidade buscou as fontes de uma vida “sem mitigações” como caminho para a reforma e renovação do Carmelo.
Depois de cinco séculos, encontramo-nos, como Santa Teresa, diante de encruzilhadas que nos desafiam em todos os níveis: pessoal, comunitário e institucional. O mundanismo material e espiritual, invocado pelo Santo Padre como uma das doenças de nossa vida de discípulos, armou sua tenda e entre nós, roubando-nos a alegria, a paixão e a coragem da fidelidade, transformando nossa existência em um “empasto” de superficialidade e mediocridade. Como Santa Teresa, se quisermos recuperar a beleza de nossa vida, devemos assumir o esforço de “nadar contra a corrente”, reformando-nos para reformar, recuperando a beleza e a alegria de nossa condição de discípulos, ofuscada pela tentação de autossuficiência e pela ilusão de que, com nossas ideias e nossos talentos, podemos atingir a perfeição em nossa vida.
Santa Teresa nos ensina a via régia da humildade, virtude adquirida depois de muito penar e fruto maduro da consciência de que é Deus quem tem em mãos o timão de nossa existência e de nosso projetos. Resta-nos, finalmente, deixar brotar do nosso coração a pergunta-resposta com a qual Teresa exprime sua disponibilidade sem reservas aos caminhos de Deus: “Vossa sou, para vós nasci, que mandais fazer de mim”?  Sua vida, sua doutrina e seu carisma espiritual, marcados pela singular capacidade de “penetrar com profundidade o mistério de Cristo e o conhecimento da alma humana” (Paulo VI), possuem uma atualidade incontestável para os homens e mulheres de nosso tempo marcados por aquela inquietação interior que os impele a buscar um “algo a mais” como qualificativo para a própria experiência de fé.
Que, Santa Teresa, mestra de oração e de vida, com seu exemplo e sua doutrina, incite os vossos corações a percorrer a fascinante estrada da intimidade com Deus, que se transforma em serviço e missão para a Igreja e para o mundo.
Fraternalmente no Carmelo,

Frei Fernando Millán Romeral, O. Carm.

Prior Geral.

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