A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1, 29-39 que corresponde
ao 5º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis
o texto
No meio da intensa atividade de profeta
itinerante, Jesus cuidou sempre da Sua comunicação com Deus no silêncio e na
solidão. Os evangelhos conservaram a recordação de um costume Seu que causou
profunda impressão: Jesus costumava retirar-se de noite a orar.
O episódio que narra Marcos ajuda-nos a
conhecer o que significava a oração para Jesus. À véspera tinha sido uma
jornada dura. Jesus «tinha curado muitos doentes». O êxito tinha sido muito
grande. Cafarnaum estava comocionada: «A população inteira aglomerava-se» em
torno de Jesus. Toda gente falava dele.
Essa mesma noite, «de madrugada», entre
as três e as seis da manhã, Jesus levanta-se e, sem avisar os Seus discípulos,
retira-se para um descampado. «Ali se pôs a orar». Necessitava estar a sós com
o Seu Pai. Não quer deixar-se aturdir pelo êxito. Só procura a vontade do Pai:
conhecer bem o caminho que tem de percorrer.
Surpreendidos pela Sua ausência, Simão e
os seus companheiros correm a procura-Lo. Não hesitam em interromper o seu
diálogo com Deus. Só querem retê-Lo: «Toda gente Te procura». Mas Jesus não se
deixa programar desde fora. Só pensa no projeto do Seu Pai. Nada, nem ninguém o
afastará do Seu caminho.
Não tem nenhum interesse em ficar a
desfrutar do Seu êxito em Cafarnaum. Não cederá ante o entusiasmo popular. Há
aldeias que, todavia, não escutaram a Boa Nova de Deus: «Vamos... para predicar
também ali».
Um dos rasgos mais positivos no
cristianismo contemporâneo é ver como se vai despertando a necessidade de
cuidar mais da comunicação com Deus, o silêncio e a meditação. Os cristãos mais
lúcidos e responsáveis querem arrastar à Igreja de hoje a viver de forma mais
contemplativa.
É urgente. Os cristãos, em geral, já não
sabem estar a sós com o Pai. Os teólogos, predicadores e catequistas falamos
muito de Deus, mas falamos pouco com Ele. O costume de Jesus é esquecido há
muito tempo. Nas paróquias fazem-se muitas reuniões de trabalho, mas não
sabemos retirar-nos para descansar na presença de Deus e encher-nos da Sua paz.
Cada vez somos menos para fazer mais
coisas. O nosso risco é cair no ativismo, o desgaste e o vazio interior. No
entanto, o nosso problema não é ter muitos problemas, mas ter a força
espiritual necessária para enfrentá-los.
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br
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