Uma leiga (provavelmente a mais poderosa
na Igreja Católica no século XX) é candidata a santidade, após a abertura do
processo de beatificação nesta terça-feira, na Itália, evento acompanhado por
18 mil pessoas ao redor do mundo via transmissão ao vivo na internet. A
reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 28-01-2015. A tradução é
de Isaque Gomes Correa.
Chiara Lubich, fundadora do movimento
dos Focolares, morreu em 2008 aos 88 anos. A tentativa de declará-la santo veio
logo após o período obrigatório de 5 anos de espera exigido pelo Direito
Canônico para que se abra o processo de beatificação.
Na terça-feira (27-01-2014), Dom
Raffaello Martinelli, da Diocese de Frascati, Itália, oficializou a abertura do
processo. Frascati é a diocese onde se localiza a sede internacional dos
Focolares e onde Lubich foi enterrada depois do funeral em Roma, que teve cerca
de 40 mil pessoas assistindo.
Os Focolares – que em italiano significa
“lareira, lar, casa” – é um movimento católico fundado por Lubich em Trento
durante a Segunda Guerra Mundial com o objetivo de promover a unidade. Ao longo
dos anos, o grupo se tornou particularmente ativo no diálogo ecumênico e
inter-religioso, e atualmente conta com cerca de 100 mil membros em 182 países.
Os Focolares são também o único
movimento na Igreja Católica cujos estatutos exigem que o presidente do grupo
seja uma mulher.
Durante os papados de João Paulo II e
Bento XVI, Lubich foi uma confidente próxima e, provavelmente, a leiga mais
visível no catolicismo.
O Papa São João Paulo II, por exemplo,
pediu a participação dela como observadora em vários encontros do Sínodo dos
Bispos.
Sobre a sua morte em 2008, Bento XVI
falou de Lubich como a “fundadora de uma grande família espiritual que abraça
múltiplos domínios de evangelização” e expressou a sua admiração pelo constante
compromisso de Lubich com a comunhão na Igreja, com o diálogo ecumênico e com a
fraternidade entre todos as pessoas.
Nasceu em Trento em 1920, recebendo o
nome Silvia Lubich. A admiração que tinha por Santa Clara de Assis a levou a
adotar Chiara, que é a forma italiana do nome.
Em 1943, após consultar um padre, fez,
em privado, votos consagrando-se a Deus e, aos poucos, começou a formar um
círculo de companheiras que liam os Evangelhos em grupos. Estes encontros foram
o começo do que é hoje movimento dos Focolares, também conhecido como “Obra de
Maria”.
Em seu primeiro – e até então único –
encontro com os delegados do movimento ocorrido em setembro passado, o Papa
Francisco chamou os Focolares de uma “pequena semente no centro da Igreja
Católica que, ao longo dos anos, trouxe vida à árvore”.
Esta árvore, disse o pontífice, “agora
estende seus ramos em todas as expressões da família cristã e também entre os
membros das diversas religiões e entre muitos que cultivam a justiça e a
solidariedade na busca da verdade”.
Os Focolares começaram o seu diálogo
ecumênico em 1961 e forjaram laços com judeus, budistas, muçulmanos, hindus e
outros, incluindo a Sociedade Americana de Muçulmanos, fundada pelo falecido
Imã Warith Deen Mohammed.
Ao falar à Rádio Vaticano, Maria Voce,
que sucedeu Lubich na presidência do movimento, disse que uma grande quantidade
de documentos, cartas e vídeos de Lubich foi entregue à diocese para que o
tribunal eclesiástico possa estudar a causa de santidade.
Com estas informações coletadas, o
tribunal determinará se Lubich viveu as virtudes cristãs de maneira heroica e
merece ser declarada venerável. Se sim, a atribuição de um milagre à sua
intercessão seria, sem seguida, o pedido normal para a beatificação, e um outro
seria necessário para declará-la santo.
Na mesma entrevista de Voce, datada de
20 de janeiro, a religiosa disse que a santidade de Lubich pode ser vista em
sua normalidade, chamando-a de um exemplo de santo ao “levar uma vida normal”.
Todo o extraordinário em sua “vida
normal é fruto que vem de Deus, da relação de Chiara com Deus e da relação
normal dela com as pessoas”, disse Voce.
Se Lubich for eventualmente declarada
beata, ela será a segunda membro do movimento a receber tal homenagem. Chiara
“Luce” Badano, menina italiana que morreu aos 19 anos após uma batalha de dois
anos contra um câncer ósseo, foi beatificada em 2010.
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br/
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