O
vovô Francisco falava do seu modo afável de sempre, e o menino saltitava ao seu
redor, como se estivesse no jardim de casa. Como se o avô estivesse podando uma
cerca em uma tarde ensolarada qualquer de outono, deixando que o netinho se
movesse livremente com a promessa de não se afastar muito. Ele poderia muito
bem lhe dizer: "Cuidado que você vai cair", como diz um idoso um
pouco ansioso a uma criança irrequieta. A reportagem é de Paolo Di Stefano,
publicada no jornal Corriere della Sera, 29-10-2013. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Isolado
do contexto, podia ser um retrato íntimo, de família, mas estávamos na Praça de
São Pedro, durante uma homilia, a despeito de milhares e milhares de fiéis
incrédulos. Um quadro terno e cômico ao mesmo tempo, porque o avô não era
ninguém menos do que o papa, e o menino tinha escapado da multidão para ficar
lá em cima, ao lado do vovô que lhe acariciava a cabeça, voltando
ocasionalmente a abraçá-lo para um apelo irresistível de afeto e daquela
cumplicidade que só os avós conseguem ter com os netos.
Esse
papa sabe dar naturalidade a palavras e a gestos que até recentemente pareciam
impensáveis. Tudo de uma simplicidade desarmante, como o primeiro "boa
noite" do dia 13 de março. Como as caretas sorridentes e confidenciais com
o pequeno. Como aquela agitação do menino "impertinente", que, com a
sua camisa amarela de mangas longas demais, ia se sentar por um instante no
trono pontifício. Talvez alheio a tudo, talvez bem consciente daqueles poucos
minutos de celebridade, enquanto o vovô Francisco continuava falando tranquilo
ao oceano da Praça de São Pedro, sem prestar muita atenção ao moleque que agora
já estava ao seu lado mexendo com uma mão nas pregas do hábito branco.
Era
o encontro das famílias, mas já tínhamos visto muitas crianças em torno do vovô
Francisco. Em julho, no Rio de Janeiro, ele abraçou Nathan, um garoto de nove
anos que escapou da multidão para alcançar o papa, que, para cumprimentá-lo,
pediu que o motorista parasse o carro. Em setembro, ele quis telefonar para
Federico, de seis anos, que de Chivasso tinha lhe enviado um desenho de flores
coloridas. Em Assis, outro abraço com uma criança que tinha se jogado no seu
colo sacudindo uma bandeira. Não um abraço qualquer, mas um apertão pleno,
forte, reconfortante e, depois, a caminhada acima nas escadas, de mãos dadas.
Certamente,
não foi um avô que disse "Deixai vir a mim as crianças", mas não
importa.
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br
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