José Antonio Pagola
Segundo o relato
de Lucas, Jesus agonizou em meio às zombarias e ao desprezo daqueles que o
rodeavam. Ninguém parece ter entendido sua vida. Ninguém parece ter
captado sua entrega aos que sofrem, nem seu perdão aos culpáveis. Ninguém viu
no seu rosto o olhar compassivo de Deus. Neste momento, ninguém parece perceber
naquela morte nenhum mistério.
As autoridades
religiosas caçoam dele com gestos depreciativos: "A outros ele
salvou. Que salve agora a si mesmo. Se é de fato o Messias de Deus, ‘o
Escolhido!', Deus virá em sua defesa".
Também os
soldados aderem às zombarias. Eles não acreditam em nenhum Enviado de
Deus. Eles riem do letreiro que Pilatos mandou colocar na cruz: "Este é o
Rei dos judeus". É absurdo que alguém possa reinar sem poder. Ele deve
demonstrar sua força salvando-se a si mesmo.
Jesus permanece
calado, porém não desce da cruz. Que faríamos nós se o Enviado de Deus
procurasse sua própria salvação fugindo da cruz que o une para sempre a todos
os crucificados da história? Como poderíamos acreditar num Deus que nos
abandonasse para sempre à nossa sorte?
De repente, em
meio a tantas zombarias e desprezo, acontece uma surpreendente
invocação: "Jesus, lembra-te de mim, quando entrares em teu
Reino". Não é um discípulo nem um seguidor de Jesus. É um dos
criminosos crucificados junto dele. Lucas o propõe como exemplo admirável de fé
no Crucificado.
Este homem a ponto
de morrer executado sabe que Jesus é um homem inocente, que não fez
nada mais que o bem para todos. Intui na sua vida um mistério que escapa dele,
mas está convencido de que Jesus não será derrotado pela morte. De seu coração
nasce uma súplica: somente pede a Jesus que não o esqueça. Só Jesus pode fazer
alguma coisa por ele.
Jesus responde
imediatamente: "Hoje mesmo você estará comigo no Paraíso". A partir
deste momento os dois estão unidos na angústia e na impotência, mas Jesus o
acolhe como companheiro inseparável. Os dois morreram crucificados, mas
entraram juntos no mistério de Deus.
Em meio à
sociedade descrente de nossos dias, muitos vivem confusos. Não sabem se
acreditam ou não acreditam.Quase sem sabê-lo, levam no seu interior uma pequena
e frágil fé. Às vezes, sem entender por que nem como, sobrecarregados pelo peso
da vida, invocam Jesus à sua maneira.
"Jesus,
lembra-te de mim", e Jesus escuta-os: "Você estará sempre
comigo". Deus tem seus caminhos para encontrar cada pessoa, e nem sempre é
por onde indicam os teólogos. É decisivo ter um coração que escute a própria
consciência.
Fonte: http://www.cebi.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário