O
espanhol Gustavo Entrala, 43, não se considera um bom católico, mas isso não
impediu que sua agência 101 fosse contratada pelo Vaticano. Sua equipe é
responsável pela entrada do primeiro papa, Bento XVI, nas redes sociais. Hoje,
o Twitter do papa Francisco (@pontifex) contabiliza cerca de dez milhões de
seguidores. Entrala, que visitou o Brasil para encontros e palestras, falou à
coluna sobre o seu trabalho. A entrevista é da coluna de Mônica Bergamo e
publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 21-10-2013.
Eis a entrevista.
Como você entrou em contato com o
Vaticano?
Vi
uma carta publicada por Bento XVI, em que ele dizia que algumas crises da
igreja poderiam ter sido evitadas se eles aumentassem a comunicação pela
internet. Escrevi oferecendo nossos serviços, mas não achei que alguém fosse
ler. Quando Federico Lombardi (diretor de imprensa do Vaticano) me ligou,
pensei que fosse brincadeira. Apresentamos um plano de comunicação e eles
gostaram.
Você conheceu os dois últimos papas,
Bento XVI e também o papa Francisco. Como eles lidam com a tecnologia?
Nesse
ponto são iguais: muito pouco tecnológicos. Bento XVI nunca tinha visto um iPad
na época em que criamos o aplicativo The Pope app. Coloquei fotos dele
adolescente, com os irmãos e os pais. Ele ficou maravilhado. Francisco também
não sabia muita coisa. Um bispo auxiliar de Buenos Aires fez até uma piada na
época e disse que a última tecnologia que o papa havia usado era uma máquina
Olivetti. Insistimos e deu certo.
O papa cria os tuítes da conta?
Francisco
escreve mais ou menos 50% do conteúdo. O resto é da equipe, que posta frases
ditas por ele. O papa entende muito bem o processo e a finalidade das redes
sociais, que é alcançar as pessoas. Ele é naturalmente aberto, diferente do
Bento, que, apesar de ser afetuoso no trato pessoal, ficava mais retraído ao se
comunicar com multidões.
O atual papa é bem mais pop.
Na
época de Bento XVI, o Twitter papal tinha cerca de três milhões de seguidores.
Hoje, tem dez milhões. A palavra que mais acompanha tuítes sobre o atual papa
em inglês e espanhol é "cool" e "mola", o equivalente a
legal.
Qual é a estratégia usada?
Vejo
a igreja católica como uma marca. Uma marca tem que emocionar. Nós nos apoiamos
no carinho que as pessoas sentem pelo papa. Apesar de crises como a questão da
pedofilia e a opinião sobre os homossexuais, ainda não existe ninguém tão
querido quanto o papa. Nós trabalhamos com isso. As pessoas estão encantadas em
poder falar com o Vaticano pelo Facebook.
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