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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Edith Stein: Viver a verdade.

Frei Cláudio van Balen, O. Carm. Convento do Carmo, Belo Horizonte-MG.

          Foram doze anos de espera, amadurecimento e luta para agora, em 1933, retirar-se atrás dos muros de um mosteiro. O cunhado, casado com a irmã Erna, lhe oferece hospitalidade, mas ela decide pelo caminho do Carmelo em Colônia. Entre os familiares, o susto passa a ser incompreensão. Sua irmã sintetizou: “O terrível na vida é isto: o que torna um feliz é para o outro a maior catástrofe”. Sua despedida da mãe foi comovente. Essa não entendeu, absolutamente, a decisão de sua filha mais nova. E na extrema solidão, Edith deixou para sempre Breslau, no dia 12 outubro de 1933, dia de seu aniversário. Ela tinha 42 anos. No dia 14, ela chega ao Carmelo em Colônia, adotando o nome de Theresia Benedicta a Cruce. Fazia escuro a seu redor, mas ela se reconhecia acolhida na luz de Deus.

Dentro do contexto da Alemanha, naquela época, o ingresso de Edith no Carmelo facilmente poderia parecer-lhe uma negação ou fuga, sendo na realidade uma resposta pessoal, sofridamente amadurecida, ao apelo de Deus e à urgência da situação. Realmente, a questão é a escolha do meio adequado, com o qual entra na luta. Paulatinamente, ela chegou à conclusão de que a estranha dimensão do mal nazista só poderia ser combatido pela força da Cruz, isto é, por um amor incomum que, de um lado, elimina toda violência e, por outro lado, enfrenta o mal em sua raiz, graças a uma solidariedade incondicional. Ela escreve: Nosso socorro não resulta simplesmente das humanas aquisições, mas do amor sofrido de Cristo; e é meu desejo partilhar do mesmo. Quero entregar-me ao coração de Jesus como gesto de solidariedade pela paz do mundo. Que o reino do Mal, da exclusão, possa implodir, caso possível, sem guerra mundial, e que uma nova, realmente nova ordem possa ser estabelecida”.

Para Edith, o ingresso no Carmelo nada tem a ver com fuga; pelo contrário, ela se dirige ao front para combater o inimigo com os meios que julga os mais eficientes: a oração, a entrega de sua pessoa, uma ilimitada reconciliação como de “Yom Kippur”. Como Teresa Benedita da Cruz, ela é uma simples carmelita entre as outras, cujo brilhante passado intelectual é ignorado pelas companheiras. Mas seu novo nome resume sua história: Teresa evoca a beleza da amizade e a força da inspiração renovadora; Benedita evoca a busca intelectual com sua paixão pela verdade, e a Cruz abre o espaço misterioso para o caminho da solidariedade e das experiências espirituais mais profundas, que culminam em Auschwitz, onde se desvenda o mistério da “Ciência da Cruz”.  

Por ocasião de seu ingresso no Carmelo, Edmund Husserl sintetizou para sua discípula e amiga muito estimada o paradoxo de sua opção: Afinal, há no coração de todo judeu um impulso para o absoluto e um amor pelo martírio”.  Neste novo estilo de vida, sua sensibilidade e atividade intelectual, antes tão evidenciadas, ficam ofuscadas pelo amor a Cristo na Vida Religiosa e são transformadas pela luz do conhecimento, que resulta da sofrida experiência com a Verdade. Já adaptada ao novo estilo de vida, ela recebe a incumbência de, em 1935, redigir o texto filosófico “Endliches und Ewiges Sein”, que depois é barrado para publicação por tratar-se de um escrito não ariano. Os muros do mosteiro, aliás, preservam as irmãs da complexidade da realidade, mas Edith, mediante troca de cartas com familiares e amigos, acompanha o que lá fora está acontecendo de ameaçador. E ela se mostra sempre de prontidão para lutar pela verdade e pela justiça.

 

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