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sábado, 13 de julho de 2013

O que procuram esses jovens?

Dom Odilo P. Cherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo.

 
Aproxima-se a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro (JMJ-Rio 2013). Foram quase dois anos de intensa preparação desde que o papa Bento XVI anunciou, em julho de 2011, no final da Jornada de Madrid, que a próxima seria realizada no Rio!

No dia 18 de setembro sucessivo começou a movimentação para a JMJ-Rio 2013, com a acolhida da cruz da Jornada e do ícone de Nossa Senhora, em São Paulo. Iniciou-se, então, a peregrinação desses sinais de Jesus e de sua Mãe, que percorreram todas as 274 dioceses do Brasil, encontrando as realidades mais diversas vividas pelos jovens: igrejas, escolas e universidades, prisões, locais de recuperação de dependentes químicos, favelas e situações de degrado, como a "cracolândia", em São Paulo.

Agora esses mesmos sinais já estão no Rio de Janeiro, a esperar a chegada dos jovens peregrinos que para lá acorrerão em grande número, procedentes de todo o Brasil e também do exterior. Quase 200 países estarão representados! Dia 22 chegará o papa Francisco, peregrino também ele, para o abraço do Cristo Redentor e o encontro com essa multidão, que mostrará o rosto jovem da humanidade e da Igreja Católica.

As JMJs são pensadas e organizadas como peregrinações, com um significado primariamente religioso, sem deixar de ter múltiplos outros significados. Assim, também estão impostados os principais momentos do programa da Rio 2013, que se estende de 22 a 28 de deste mês. Haverá três manhãs de "catequeses", oferecidas em dezenas de línguas e em cerca de 200 locais diversos; elas proporcionarão aos jovens peregrinos a reflexão sobre alguns aspectos da sua vida, à luz da fé cristã. Não faltarão iniciativas culturais e de solidariedade social.

Sucessivamente, os encontros com o papa Francisco terão o mesmo objetivo: aprofundar a experiência do encontro da grande família humana, unida por laços comuns muito profundos, cujo movente será a experiência religiosa e eclesial, mas cuja base, de fato, é a nostalgia latente no coração humano (ou será utopia?) de ver a família dos povos reunida, reconciliada e vivendo em paz, malgrado todas as diferenças nela existentes.

Os pontos culminantes desta JMJ serão a grande vigília de jovens com o papa Francisco no sábado, dia 27, e a missa no "campo da fé" na manhã seguinte. Nesses momentos intensos, mais uma vez os jovens farão a experiência da peregrinação, com todos os esforços e sacrifícios que isso geralmente requer: sair de casa e pôr-se a caminho para alcançar uma meta; encontrar outros companheiros andando na mesma direção; conversar com algum desconhecido que se encontre no mesmo trecho e busca a meta comum; partilhar o pão e a água, socorrer quem já se cansou ou machucou o pé, festejar a chegada... Tudo isso não é uma parábola da própria vida?

Somos todos peregrinos e trazemos no mais íntimo de nós o desejo de chegar ao lugar do nosso descanso, à paz e felicidade tão sonhadas, meta que move nossos passos todos os dias, mesmo sem termos consciência disso. Os jovens da JMJ farão essa experiência de peregrinação na fé, ao encontro dos outros e de si mesmos, ao encontro de Deus, que os atrai de maneira sutil, mas irresistível, meta final da existência humana.

Mas esta peregrinação também é movida pela busca de fundamentos sólidos, que deem consistência e sentido ao convívio humano, em que as diferenças não sejam vistas como barreiras ou fossos intransponíveis, mas como riquezas a compartilhar. Não é também algo disso que se percebe nas manifestações de rua das últimas semanas, com grande adesão de jovens, que descem às ruas e se põem em marcha? Aonde querem chegar?

 

Protestam contra o que não está bem na política, na economia, no ordenamento social; acreditam que as coisas podem melhorar e têm vontade de contribuir para isso... Nem sempre os clamores estão plenamente afinados, mas é certo que revelam uma desarmonia profunda no convívio político e social brasileiro. Há a percepção de uma meta que não é simplesmente o vão livre do Masp, na Avenida Paulista, mas o Brasil e o mundo melhores do que estão sendo. Os jovens dão mostras de que não se satisfazem em navegar na rede nem se conformam com o tentador aceno das praias da corrupção, do degrado moral e cívico. São peregrinos da verdade e da justiça. Sinais de esperança!

A Jornada de 2013 já estava prevista há cerca de três anos e os jovens, por certo, não irão ao Rio de Janeiro para protestar contra o governo brasileiro nem darão vazão às insatisfações com a política de seus países de origem. Eles irão ao encontro do Cristo Redentor, que os espera com os braços em cruz para o amplexo da vida e da esperança. No final da sua peregrinação encontrarão a mesma cruz peregrina que foi antes ao encontro deles nos muitos espaços e ambientes onde vivem. Cruz de madeira, tosca, nada brilhante, como foi a de Cristo; como as cruzes que abraçamos cada dia...
          Em torno dela se juntarão, às centenas de milhares, com o papa Francisco, para proclamar a sua fé no Deus da vida e da esperança; fé que também é necessariamente um compromisso pessoal e comunitário com a edificação de um mundo melhor, como eles bem o sabem sonhar, movido pelo amor, sem mais violência nem cruzes que esmagam!

E o que esperar desta JMJ? O mesmo que se espera de um campo semeado: quem pode garantir seus frutos? O tempo e a paciência os mostrarão. Sem semear não há esperança de colher. Vale a pena investir nos jovens.

E o Brasil terá muito fruto a colher. Serão centenas de milhares de jovens a percorrer o País, em direção ao Rio de Janeiro. As imagens de nosso povo e de nossa cultura, recolhidas nessa peregrinação, serão levadas para todo o mundo. E isso tem um valor inestimável!  


 

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