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segunda-feira, 13 de maio de 2013

A VIDA DE ORAÇÃO NO CARMELO.


Redemptus Maria Valabek O.Carm  (A reforma de Touraine: Philippe Thibault)
           
O fermento da Reforma dentro da Ordem, que no caso dos sucessores de Teresa de Ávila e João da Cruz rompeu tornando-se uma entidade independente, permaneceu um fator medicinal no tronco original da Ordem. Não só este fermento foi alimentado por gerais do calibre de Henrique Sílvio, não somente fez isto/ela (did it) produzir obras sobre oração no Carmelo como A Escola de Perfeição de Pablo Ezquerra, formada de doutrina espiritual, de filosofia sagrada e teologia mística,  Da oração mental de Pedro Tomas Sarraceno,  Meditationes, preces et excercitia quotidiana super orationem dominicam  de Paulo Antônio Foscarini, mas dentro da própria Ordem surgiu a Reforma Turonense, que esparramou seus efeitos por toda a Ordem como tal. Os principais expoentes desta reforma eram explícitos no seu desejo de permanecer unidos à Ordem, assim eles preferiram ser chamados de “Estrita Observância.” Em explícito contraste com a reforma Teresiana, o papel de uma bem celebrada liturgia permaneceu uma “constante” nesta observância, que influenciou nas sucessivas constituições da Ordem.  Também o Diretório de Vida Carmelitana  editado pelo Frei João Brenninger em 1940, repousa intensamente na espiritualidade deste movimento reformador.
            O Pai da Observância, Felipe Thibault (1572-1638) sentiu-se obrigado a justificar a ênfase na oração litúrgica, enquanto a tão admirada reforma Teresiana diminuiu sua proeminência, por exemplo abolindo o canto Gregoriano e o uso do órgão.
            Sua resposta:
            “O uso do canto, do órgão e dos cânticos solenes é tão antigo quanto a Ordem Carmelita. A Ordem é um noviciado para o Paraíso. Nós devemos assim imitar os santos, que rendem homenagem a Deus por meio de Cânticos. Na verdade, nós não sabemos suas melodias, mas nós devemos praticar por meio de melodias oferecidas pela Igreja.”
            A renovação das celebrações litúrgicas também encarrega-se/assiste também ao externo attend to externals. A modéstia e beleza simples das celebrações atraíram os leigos, tanto humildes como pessoas de prestígio, para assistir às funções litúrgicas dos Carmelitas em Rennes, o berço da Reforma.  Todavia, o principal acento dos observantes estava numa valorosa, devota celebração, que espontaneamente flui do coração atenta/cortês/reverente para o Senhor. Palavras litúrgica, e cantos e cerimônias deveriam ajudar a fixar a atenção e, acima de tudo, todas as afeições/ afetos no Senhor. Embora isto não devesse ser forçado, deve haver um constante esforço de ser agradável ao Senhor durante o Ofício Divino por meio de uma simplicidade de coração, um autêntico espírito de piedade e pureza de intenção. Os reformadores intuíram algo que hoje em dia está sendo enfatizado: uma valorosa e devota celebração será o barômetro da qualidade da vida fora do coro. Ninguém deveria desprezar qualquer comportamento externo que espelha a reverência do coração diante da Divina Majestade.  Uma atmosfera contemplativa, então, tem uma crucial importância na tradicional celebração Carmelitana da liturgia. “Os religiosos deveriam sempre estar ocupados ou com oração ou com estudo... mas especialmente com o Ofício Divino.”
            A Estrita Observância conseguiu criar uma atmosfera que iria alimentar a vida interior nas comunidades; daí tanta ênfase no silêncio e na solidão.
            “Um religioso nunca será capaz de receber/desfrutar do espírito do Carmelo se ele nem busca nem ama com todo o seu coração , tanto em si mesmo quanto nos outros, a vida espiritual e a ocupação interior com Deus, pelo fiel exercício da divina Presença.”

            Uma vida de familiaridade com Deus é a primeira coisa necessária para um Carmelita. Junto com a prática da presença de Deus  a oração aspirativa é essencial para preservar o verdadeiro espírito. “Ensina-lhes que o único meio para preservá-los é conversar com Ele na oração mental e na fiel prática da sagrada presença, junto com vívidas aspirações inflamadas pelo fogo da caridade.”  O verdadeiro espírito do Carmelo está enraizado na vida interior.   Como todos os outros reformadores do Carmelo, Felipe Thibault também aponta que embora através dos séculos os Carmelitas tivessem obtido diversas dispensas se sua Regra, nunca uma atenuação  do preceito de meditar dia e noite na lei do Senhor, “que é o fundamento do espírito da nossa santa Ordem.”
João de São Sansão
            A alma da Observância, um místico que foi chamado do João da Cruz francês, é o irmão leigo cego João de São Sansão (1571-1636). Espelhando os místicos Renanos como Ruysbroek e Herp, João alcançou o mais alta da união transformante; em contraste com seu confrade João da Cruz, ele tentou descrever esta mais alta, experiência pessoal da oração Cristã. Incansavelmente, ele ensinou que todos são chamados à vida mística, isto é, experienciar de algum modo mesmo aqui na terra o próprio Deus e sua real/atual presença. Para os Carmelitas, saborear a presença de Deus mesmo aqui na terra é mais importante que qualquer outra tarefa ou trabalho: “O ponto mais importante... é vacare Deo continuamente.”  Ou mais precisamente: “Em completa pureza de espírito e corpo, em uma viva, atual e constante presença de Deus... nisto consiste a base do espírito da nossa Ordem.” Ele insiste na oração contemplativa para os jovens estudantes, com a idéia que se eles fossem enraizados nela, mais tarde, quando lhes fossem dadas responsabilidades pastorais, eles estariam habituados a viver pela essência de sua vida no Carmelo. Tão frequentemente se vive em um nível externo mesmo em seu próprio cuidado/own regard; sua luta espiritual deve ser de uma constante interiorização.  Ele resolutamente insiste que esta vida mística  não é acima de tudo trabalho nosso, mas pelo contrário a constante iniciativa de Deus. No entanto, Deus tem dado à nossa natureza uma suscetibilidade para esta vida de intimidade com Ele. O espírito de João é evidente nas Constituições da Reforma Turonense.
            “É necessário que um tempo conveniente e lugar sejam dados aos neo-professos, assim que eles possam estar mais profundamente imbuídos com o espírito do nosso Instituto, e implantar virtudes em suas mentes, e transferir todos os seus afetos em Deus, para que em tempo {so thet in time} eles possam avançar em conversações interiores com Deus e na doce presença de Deus, que fora de dúvida constitui e faz o verdadeiro Carmelita.
            Indubitavelmente, a vida interior de oração de cada carmelita seguirá as potencialidades de sua personalidade, de seus dons naturais e sobrenaturais. O que é importante em todas as formas de oração é o afeto de suas potências internas a Ele com quem um diálogo se instala. Mesmo no Ofício Divino o que é importante é estar inflamado com o amor divino.  Na meditação, também, há a necessidade de “escutar mais que falar, não trabalhar demais com o intelecto, mas também não ficar negligente ou relaxado/preguiçoso.”  Deveria haver tanta reflexão quanto fosse necessária para surgir afetos e amor pelo Senhor.
            A forma de oração preferida pelo irmão leigo cego era a aspirativa. Esta não é o que comumente é chamada de oração jaculatória. Ele mesmo dá a exata descrição:
            “Uma aspiração não é meramente qualquer tipo de diálogo afetivo, mesmo que em si este último seja um bom exercício, e dele nasça e proceda a aspiração. Ela é uma amorosa e inflamada confiança (élancement)  do coração e do espírito, pelo qual a alma supera-se a si mesma e todas as coisas criadas e une a si mesmo com Deus na vividez/vivacidade de sua amorosa expressão. Esta expressão supera todo sensível, racional, intelectual, ou compreensível amor. Pela impetuosidade do Espírito de Deus e seu próprio esforço, ela alcança  a divina união, não em sua completa essência, mas por uma espécie de transformação pelo Espírito de Deus.”
            Esta confiança interior para a comunhão com o Senhor no amor pressupõe uma vida de constante purificação dos amores nocivos/doentios puramente humanos, e isto inclui todos os meios normais para preservar um coração puro, como o silêncio e a solidão. É inútil forçar este tipo de oração; é Deus mesmo que enche-nos com o seu Espírito. A plenitude do dom do Espírito faz-nos ansiar/esperar/desejar por sua presença ainda mais. Não é uma questão de sentimentos ou desejos, mas uma direta comunhão com Deus. Quatro passos podem ser distinguidos nesta oração. 1) Tudo de si mesmo e tudo da criação é sacrificado por causa do Senhor que é o centro da atenção; 2) A Deus se suplica que ele nos envie seus maravilhosos dons; 3) todos os passos imagináveis são dados para tornar-nos semelhantes a Deus, acolhendo Deus no modo como ele se digna dar-se a si mesmo a nós; 4)sendo unido a Deus de um modo mais elevado. Este não é um exercício fácil que é assimilado em um único dia. Há a necessidade de um esforço perseverante, combinado com uma profunda vida interior, em vista de ir além de todas as imagens e repousar somente em Deus. Nos últimos estágios, a oração aspirativa será mais simples.
            Devido à extrema pobreza de imagens devido à sua cegueira, a linguagem de João é difícil às vezes; contudo, ele tenta descrever que a contemplação abarca, supera, vai além de todas as outras coisas. A um certo ponto a alma que foi deixada a si mesma uma presa para Deus, não pode resistir à supereminente bondade, verdade e beleza de Deus. Ela permite-se ser totalmente permeada e possuída por Ele. Esta experiência deixa a alma confusa, porque de suas outras experiências, tão parciais e limitadas, ela acha esta tão difícil de descrever sua comunhão com o Objeto-Tudo. O contemplativo está convencido que para conhecer Deus nesta toda envolvente experiência é “não conhecer” a Ele no sentido ordinário. Há uma frustração na tentativa de expressar a experiência contemplativa. Por esta razão, o contemplativo por um lado esta cheio de luz mas, por outro lado cheio de escuridão. Aqueles que chegam a este alto degrau de oração dizem coisas que fazem sentido somente a outros que tiveram experiências similares.
            João de São Sansão constantemente relembra aos Carmelitas por sua vez a voltarem-se para dentro de si para repararem na {se dêem conta de} sua inclinação para Deus ao nível do consciente. Ele refere-se ao  scintilla animae,  aquela centelha central da alma onde Deus habita em nosso ser, nossa vida verdadeira e razão de ser de nossa pessoa inteiramente. Tudo o mais é julgado e submetido a esta comunhão que transforma a alma e tudo que ligado à alma de acordo com a Vontade Dele que é Tudo.  Não é mais uma questão da aspiração, mas do ser completamente vencido e possuído desde o Alto, pela infinita Beleza e Essência de Deus. Isto não é nada mais do que o céu na terra que Deus prodigaliza seus amigos mais queridos.  A alma é deificada e transformada.
Domingos de Santo Alberto
            Porque foi destinado trabalhar na formação dos estudantes e aspirantes à Observância de Touraine, João de São Sansão causou um profundo impacto na vida de oração, especialmente na segunda geração dos seus membros. O seu excepcional discípulo foi Domingos de Santo Alberto (1595-1634), que intuiu o verdadeiro espírito do mestre.
            É claro que para atingir a perfeição da verdadeira oração e conversação interna a alma despojada dos desejos terrestres deveria exercitar-se na amorosa, real/atual e continuada presença de Deus, satisfazendo fielmente tanto externamente quanto internamente a Divina vontade.” 
            Este exercício da presença de Deus, que se torna constante nos filhos de Deus e amigos, não é algo extremamente complicado, mas depende dos corações que estão inflamados com simples e generoso amor por ele.
            “Os noviços deveriam ser advertidos/orientados para não ler muitos livros, mas estarem atentos a Deus em todo lugar e para caminhara diante dele com simplicidade de coração, frequentemente elevando-se  a si mesmos a ele por meio de aspirações amorosas... sempre tentando preservar em seus corações uma inflamada de amorosa lembrança Dele.”  
            Orar, então, não é nada mais que uma real atração por  relacionar-se com o Senhor, que geralmente remanece/permanece/resta algo no nível da fé habitual.
            “Este estudo sobre oração não é nada mais que uma verdadeira, total, atual/real atenção a Deus e a uma amorosa expansão de todas as faculdades da alma em Deus, que então junta e une-as todas para Deus, que quase sempre, em cada hora e lugar, a alma fala com ele.”

O primeiro nível de oração é meditação:
            “Desde o começo  de sua conversão, sua alma é de certo modo rude e imersa em coisas materiais, cheia de fantasias e pensamentos do mundo, no começo você deve aplicar o seu espírito à meditação  dos divinos mistérios. Avaliar as causas e as circunstâncias com alguma consideração, assim para que depois você possa mover sua vontade para atos de dor, de amor e de agradecimento, de acordo com o tema de sua meditação.”
            Neste estágio os temas das meditações deveriam ser a Paixão de Cristo, o valor da vida religiosa, os benefícios com os quais o Senhor nos cobre. Estas reflexões deveriam ser feitas em forma de diálogo com o Senhor, que em última  análise é uma ardente afeiçoada e amorosa adesão dão espírito humano, que está constantemente buscando novos motivos em vista de estar unido ao nosso Deus supremo.

O segundo nível enfatiza a parte afetiva do diálogo:
            “Depois de haver praticado a meditação discursiva a partir de algum tema escolhido pela pessoal por algum tempo... a vontade irá experienciar o desejo de chegar mais perto das divinas realidades e ter uma viva lembrança e desejo de considerar-se a si mesma com elas {concern itself with them}. Agora é tempo de adotar uma forma mais simples de meditação, de diálogo mais simples... Visto que a este ponto a alma é enchida com o conhecimento de tudo o que pode ser dito, com um simples salto você se atirará em direção ao Nosso Senhor, falará como Ele num jeito amoroso, fazendo-lhe perguntas, respondendo-lhe, adorando-lhe, agradecendo-lhe e evocando inumeráveis atos de amor e resoluções para servi-lo, mantê-lo sempre presente, imitar suas virtudes, e tudo o mais”

O terceiro nível é um simples olhar da fé:
“Depois que você dispendeu algum tempo em conversa interior com do Deus encarnado em seus santos mistérios, você passará a uma conversação interior com Deus incriado a quem você conhecerá por um simples olhar da fé em todas as coisas, e mais intimamente em você mesmo. Isto acontece de uma maneira que você não imagina-lo estar mais no céu que na terra, mas mais próximo de você que você mesmo. Dando este tipo de fé por certo, seu exercício será manter uma conversação entre você mesmo e Deus, como uma conversa entre um bom filho e o seu pai ou um fiel amigo com o amigo, que vive, dorme e come no mesmo quarto, sempre presente um diante do outro. O assunto do seu diálogo será tomado basicamente do recíproco amor e desejo que cada um tem de não estar separado do seu amigo e desfrutar um do outro... Note-se que neste exercício há praticamente uma oração constante. A lembrança tida de Deus não é uma especulação ou meditação sobre o ser ou alguma perfeição de Deus, mas uma consideração, um esperar, um olhar afetuoso a Deus como o tesouro, o fim, o centro de nossos corações. É um pensamento tido com avidez, como os santos tiveram. Mesmo enquanto na terra, eles estavam já no céu ‘em pensamento e avidez’.”

O quarto nível é significativo pelos desejos que ele evoca:
            “A alma a quem Deus mantém neste estado, porque ela está constantemente crescendo no amor, sentirá seu desejo se fome por Deus crescendo ao ponto de tornar-se impaciente. Tudo o que faz ou é capaz de fazer não será suficiente para expressar o seu desejo. Quando ela pensa estar com Deus em diálogos, seu desejo estará muito além do que ela explicita. Ela sentirá um enlanguecimento que a fará ela morrer por não estar capaz de fazer nada. Aqui a pessoa deve estar atenta para não força-la falar nem evocar muitos atos. É suficiente que ela faça conversões essenciaia (conversiens essentielles) com todo o seu ser. Estes são preticamente silêncio e sem muitas palavras formadas. ‘O Deus!’ Isto diz mais que um longo diálogo porque seu coração esta falando para o coração de Deus e os dois entendem um ao outro muito bem.”

O Quinto nível:
            “Como pode ser visto, através de tais efusões, a alma sente que ela tem praticamente uma presença contínua e lembrança de Deus, e se torna cada vez mais desejosa dele... pouco a pouco ela deve render-se a Deus, deixando para trás inclusive aquelas conversações essenciais que para produzir ela dispendeu seu esforço, e deixá-la no num nu desejo que ela sente por Deus. Este desejo é um ato pelo qual ela olha para Deus como o infinito tesouro que pode satisfaze-la. Assim, despojada do seu próprio jeito de atuar, Deus satisfaz seus desejos e os faz crescer incessantemente. Por esta razão, ela permanecerá sempre nele, olhando para ele, contemplando-o sem cessar. Este desejo é um amor atual/real como uma fome e sede insaciável de Deus, que causa uma lembrança experiencial e conhecimento Dele na alma... Este estado é os estado da verdadeira união íntima do espírito criado com o Incriado. Aqui o cume do espírito, o poder do amor e aplicado diretamente a Deus. Que é compreendido além de qualquer idéia ou sentimento... Ela afunda mais e mais dentro de um abismo sem fundo da Natureza Divina.” 

O Diretório Espiritual da Reforma Turonense
            Mas ainda um maior impacto na Ordem foi causado pelo diretório espiritual da reforma, que foi começado por Bernardo de Santa Madalena (1589-1669),  mas compilado e escrito em forma definitiva por Marcos da Natividade da Bem-aventurada Virgem (1617-1696),  Frei Marcos teve o talento de reunir o melhor do que os vários membros da Observância tinham para oferecer e para compilá-lo em vários volumes que se tornaram textos padrão para a formação para aqueles que queriam se tornar membros da reforma. Divididos em quatro volumes, o quarto é de particular interesse: Método Claro e fácil para bem fazer oração mental e para exercitar e obter frutos na presença de Deus. Enfatizado como o meio adequado para para viver o preceito central da Regra que é o da oração contínua é o exercício da presença de Deus. Este exercício deve preceder a oração aspirativa justamente como o conhecimento precede a vontade. Cinco diferentes modos de oração são elencados: 1) 9contemplativa/unitiva. A primeira é pressuposta e a quinta é considerada além das capacidades dos noviços, assim ela se concentra nas outras três.
 Oração Mental é meditação mais que qualquer outra coisa, mas com o acento na parte afetiva. Ela é definida como “uma conversação interior e uma série de bons pensamentos e santas afeições em relação/baseado em uma certa/determinada matéria da qual a alma deseja fazer algum progresso espiritual.”  A preparação próxima para a meditação ordinariamente toma lugar na cela depois de se cantar as Matinas da meia noite. Ela consiste acima de tudo em uma  leitura a respeito do tema da meditação.  Esta é seguida pela meditação propriamente dita, na qual o intelecto atenta e deliberadamente considera alguma verdade, mas sempre com o propósito de inflamar a vontade para o amor. Afetos/afeições deveriam ser a principal parte: “Conhecimento e amor não recebem o mesmo grau de importância na oração. E se você tem amor a Deus, isto será uma fonte inexaurível de excelente iluminação  e de pensamentos santos.”  O ideal é um desenvolvimento e dependência de uma conversação afetiva com o Senhor, com Nossa Senhora e com os santos, até o religioso alcançar uma adesão simples a Deus mesmo nas altas esferas onde o Espírito movo como ele quer.
“Seus afetos serão muito íntimos; tanto a total perda e resignação de si mesmo nas mãos de Deus, ou uma simples  e pura adesão à Sua Majestade, ou uma transformação uma uniformidade e semelhança, que não pode ser obtida pelo esforço humano, embora eles sejam capazes de dispo-los para isto, desde que alguém chega ao eminente degrau de oração praticando o mais baixo degrau de oração, do qual nós falamos aqui.”
            Os afetos deveriam conduzir a pessoa a fazer resoluções afetivas, particularmente aquelas para aceitar amorosamente tudo aquilo que Deus nos manda. Ordinariamente a oração termina com petições, que tendem a mostrar a necessidade de constante ajuda de Deus em nossa oração.
            Há outros métodos  que podem ajudar especialmente em circunstâncias especiais. Para aqueles que acham o método acima descrito difícil a leitura meditativa pode ser uma ajuda. Ou para aqueles que são mais avançados, existe a oração afetiva:
            “Quando alguém adquiriu grande conhecimento das coisas divinas a partir de muitas meditações, a alma se torna tão iluminada, que se ela insiste em muita reflexão, ela se torna clouded/obscurecida e fria. Neste estado ela deveria não querer meditar, mas deveria, pelo contrário, desfrutar/gozar dos frutos de seu trabalho anterior, e dar todo o tempo aos afetos. Esta prática é própria somente àqueles avançados na oração.”
           Oração mista é uma combinação de oração mental com oração oral. Especialmente quando a meditação é difícil, como em tempos de doença, mas também nos estágios unitivos, esta oração pode ser de grande vantagem e mostra grande flexibilidade que deve ser respeitada quando se aconselha métodos de oração. Na oração mista a pessoa toma uma oração bem conhecida tal como o Pai-nosso, a Ave-Maria, um Salmo ou um versículo favorito. A oração é recitada com calma e devoção, com o objetivo não de ter bonitos pensamentos sobre Deus, mas manter um afetivo dialogo com Ele. Não se deveria ser nada forçado nesta oração; se uma palavra ou verso não causa nenhuma impressão, segue-se para a frase seguinte.
              Finalmente, existe a oração aspirativa, do tipo ensinado por João Sanz e João de São Sansão. Este tipo de oração dispõe os corações para uma verdadeira contemplação.
          Isto é acima de tudo um exercício de amor. Porque este exercício não é aprendido por sutil penetração, mas por uma elevação amorosa do coração a Deus, assim que a mais simples afeição tem mais valor que pensamentos que estão escritos em livros.”
             Esta oração é intimamente vinculada à prática da presença de Deus. Tomando o lema de Elias, “ Vivo é o Senhor dos Exércitos, em cuja presença eu estou”,” literalmente, os carmelitas lutam
            “para ter Deus continuamente representado diante de nós para cuidar que esta consciência de Deus oriente todas as nossas ações e os mais secretos pensamentos, e para oferecer nossos corações frequentemente a Ele.”
            Em vista de alimentar a prática da presença de Deus com a imaginação, inteligência e vontade o Méthode  recomendae elenca aspirações para serem propostas aos noviços, tomadas das Escrituras. Esta predileção pela Palavra de Deus, um constante valor da espiritualidade Carmelitana tradicional, é recomendada por quatro razoes: 1) a própria Palavra de Deus proclama suas palavras serem uma espada de dois gumes, e assim um meio mais efetivo; 2) a Regra do Carmelo requer este meio; 3) quando tentado no deserto, o próprio Cristo ensinou-nos usar as Escrituras para confundir o demônio  e todas as tentações; 4) a Palavra de Deus estimula-nos a adquirir a virtude.
            Exceto o uso das aspirações tiradas das Escrituras, são recomendadas outras três outros modos de união na presença de Deus. O primeiro de tudo há o método já encontrado entre os primeiros eremitas no Carmelo, o bonito jardim do Senhor: ver as pegadas passos/marcas do Senhor nas suas criaturas. O segundo, concentrar-se na humanidade de Cristo Jesus em vista de revestir-se por um breve instante com seus pensamentos, seu espírito e finalmente ser transformado Nele.  Por último, ver a providência de Deus em tudo que acontece a nós, mesmo nas adversidades.
            “Humilde e deliberada aceitação da providência de Deus em todas as coisas tanto boas como ruins é a consumação e essencial perfeição deste exercício. Isto é ndada mais que um ato de Caridade, pelo qual nós amamos todas as coisas que Deus faz, não porque elas estão agradando-nos por si mesmas, mas por causa do nosso amor por Deus, que as ordena.”
           Ao concluir seu tratado da oração, o Méthode menciona outros meios muito efetivos, provavelmente destinado àqueles que estão no limiar da experiência mística no sentido próprio: isto é a convicção da presença de Deus em si mesmo, com quem se pode dialogar e a quem se pode consultar em tudo que acontece.
            “Esta simples intuição de Deus com um escondido desejo e afeto de união com Ele  e de agradá-lo em todas as coisas é mais valiosa que milhares de outros atos que sejam/são feitos pela alma nos estágios inferiores. Assim, o que parece ser puro silêncio está na verdade cheio das mais vitais expressões e maravilhosos afetos que as Escrituras e os místicos tão frequentemente louvam. Aqueles que alcançam este estado caminham no mais profundo recolhimento, desfrutando Deus em si mesmos... possuindo-O e sendo possuídos por Ele.

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