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sexta-feira, 26 de abril de 2013

CARMELITAS: Olhar o passado com os pés no futuro: A restauração da Ordem no Brasil – 1894



Por Frei Pedro Caxito, 0. Carm. (In Memoriam) 

            Tornou-se evidente que no fim do século a Ordem era capaz de organizar e manter esforços para a sua expansão. Enquanto os alemães e irlandeses partiram para terras fabulosas que até então não tinham sido palmilhadas por pés de carmelitas, os Espanhóis retornaram para a sua América e para as Províncias fundadas há séculos pela sua Província-Irmã de Portugal.
            Já em 1886, o Vigário Provincial, Alberto de Santa Augusta Cabral Vasconcelos escreveu de Recife, pedindo a Savini para mandar religiosos a fim de restaurar a Província de Pernambuco. Os frades sobreviventes da Província, dizia ele, estavam todos num único convento (Recife). As outras quatro casas estavam em mãos de padres seculares. Ele estava velho e doente e alguns dos mais jovens não gozavam de boa reputação. Savini conseguiu reunir um grupo internacional nas pessoas de Ângelo Mallia, André Montebello e José Gregório Geoghegan. Contudo esta primeira tentativa de restauração do Carmelo no Brasil não foi bem sucedida; nos inícios de 1889 Cabral e os recém-vindos separaram-se no meio de mútuas recriminações.
            Com a eleição de um novo Prior Geral, Cabral renovou em 1894 os seus insistentes pedidos de reforço. Por esta data pôde ser feito um esforço mais sério e garantido; a Província da Espanha, em vias de recuperação, estava capacitada a corresponder às necessidades. No dia 7 de julho de 1894, um grupo de 4 padres e 2 irmãos viajou para Recife: Joaquim Guarch (Comissário Geral), Eliseu Gomez, Cirilo Font, Mariano Gordon e os Irmãos Ângelo Trigagnon e Eliseu Gomez (a nota 56 diz que é coincidência mesmo de nome e sobrenome).
            Em 1895, um segundo grupo de dois padres, três clérigos e dois irmãos foram enviados da Espanha. Neste mesmo ano o Conselho da Ordem autorizou o Provincial da Espanha a nomear um vigário provincial para o Brasil e apontou também Cirilo Font como Comissário Geral. Os dois cargos praticamente se reuniram num só.
            Os espanhóis se responsabilizaram pela restauração não só da Província de Pernambuco, mas também de toda a Ordem no Brasil, em geral. A pressa de Cabral não foi compartilhada com igual ardor no Rio de Janeiro e na Bahia. Os poucos frades brasileiros sobreviventes nestas regiões recusaram-se a reconhecer o Comissário Geral e a submeter-se à Província da Espanha. Além disto não quiseram transferir para os espanhóis os bens da Ordem, nem era isto permitido pela lei. Os Brasileiros relutavam em renunciar à sua independência e abrir caminhos, submetendo-se à disciplina religiosa. Diante destas circunstâncias os Espanhóis perceberam que a Restauração do Carmelo Brasileiro seria uma tarefa desencorajadora.
            De fato, Leão XIII tinha um pouco antes, aos três de setembro de 1891, colocado os religiosos do Brasil debaixo da jurisdição dos bispos. Os bispos, por sua vez, delegaram as suas faculdades a um "visitador" episcopal. Numa situação destas um Comissário indicado pelo Prior Geral em Roma ajustava-se tal qual um pino quadrado num furo redondo. Era um caso parecido com o da Espanha nos inícios da restauração da Ordem por lá. Com o tempo as coisas foram-se ajeitando, mas não se pôde fugir inteiramente dos primeiros conflitos.
            Em cartas para Roma datadas de 23 de agosto e 22 de outubro de 1900, o Provincial Eliseu Durán contou como ia a situação no Brasil. Da Vigararia do Maranhão nada restou. A Província de Pernambuco contava com três conventos e um hospício. Em Recife estavam cinco frades espanhóis. Dois anos depois da chegada dos recém-vindos em 1894, morreram os dois brasileiros que restavam, deixando o acima citado no comando da situação. Da Província da Bahia existia somente o Convento de Salvador com dois espanhóis e o brasileiro Frei Inocêncio do Monte Carmelo Sena. Um outro padre brasileiro vivia fora do convento em concubinato. A Província do Rio de Janeiro continha seis casas, duas das quais, Rio e Angra dos Reis, tinham moradores. São Paulo e Santos podiam ser reformadas sem grandes despesas. No Rio de Janeiro viviam sete espanhóis; em Angra, dois espanhóis e o brasileiro Frei Inácio da Conceição Silva, que ostentava o título de Provincial. O outro brasileiro da Província, Frei Antônio Muniz, vivia fora do Convento e na imprensa pública entrou numa campanha de guerrilha contra as autoridades eclesiásticas e os confrades espanhóis. De início viviam no Rio os Padres Furbão (deve ser Pe. Manuel de Santa Teresa Trovão) e Manuel da Ascensão Franco, o administrador do vasto patrimônio do Convento. Quando morreu Furbão em 1896, Mariano Gordon e Carmelo Pastor aí estabeleceram residência. Depois da morte de Manuel em 1899, o arcebispo indicou um administrador leigo para os bens do Convento. Mas a pedido do Internúncio seis frades foram enviados para o Convento de Angra dos Reis destinado a ser casa de Noviciado. Os Espanhóis tinham pouca fé na possibilidade de um noviciado no Brasil. Noviços eram poucos (em seis anos Recife recebeu um só) e tinham pouca chance de serem iniciados adequadamente na vida religiosa. Durán preferiu estabelecer na Espanha um colégio missionário para o Brasil.
            O Capítulo Geral de 1902 deu instruções ao Procurador Geral para conseguir da Santa Sé um decreto que concedesse à Província da Espanha os bens da Ordem no Brasil como medida para uma chance pequenina de sucesso.

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